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Pessoas que Disseram Coisas: McCloud, Vaughan, Trexler, Iñarritu, Quitely

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A grande falha que temos nesse momento na cena de quadrinhos é quando acontece de um grande quadrinista achar que não pode seguir adiante, pelo motivo que for. Se existe uma crise por aí, é essa. Mas o fato de que existe tanta HQ incrível só pode acalentar o coração. Dá para perceber que temos uma arte saudável. Pelo menos é o que me parece. Confusa e acachapante de tão imensa. Ela engloba um conjunto vertiginoso de ideais, mensagens, criatividade. E é assim que devia ser. Porque é a partir dessa selva maluca de ideias e imagens que as novas gerações vão poder plantar e cultivas coisas novas. Isso ainda é um processo em curso, e com sorte sempre vai ser. Estou com 54 anos e ainda sou um processo em curso. [Risos] E assim devia ser. Se algum dia a gente achar que os quadrinhos chegaram lá, provavelmente será porque eles passaram da hora.

Scott McCloud comentando sua participação no Best American Comics 2014 e o estado geral da coisa toda.

Quando eu tive filhos, teve amigos que vieram me dizer: “Por que você vai colocar criança nesse mundo? É a pior hora possível.” Aí eu percebi que o mundo não fica na torcida para você fazer coisa nova. É difícil. Essa é a grande metáfora de Saga.

Brian K. Vaughan de vez em quando solta pérolas. Essa foi mais uma. O texto também faz um ótimo apanhado da carreira dele. E me lembrou um textículo que ele fez há alguns anos sobre atingir 10 mil páginas.

Surgiu a opção do acordo extrajudicial, e o comentário que rola é que foi mais que aperto de mão e passagem de ônibus. Mesmo que tenham sido trocados para a Marvel, para as quatro famílias de classe média que tinham visto executivos ganhando milhões a partir do produto do pai, que recebeu só por cada página, foi uma oportunidade de reconhecimento do pai, de pagar a faculdade dos netos e de uma vida inteira sem ficar martirizando pelo que poderia ter acontecido ou não.

O processo jurídico histórico entre os descendentes de Jack Kirby e a Marvel – que podia chegar à consideração da Suprema Corte dos EUA – foi resolvido em fins de setembro com um acordo extrajudicial entre as partes. Embora os termos não tenham sido revelados, o especialista jurídico Jeffrey Trexler concluiu que, dado o risco quanto aos rumos do processo, o acordo foi bom.

Tem vezes que esses filmes não passam de uns carinhas em roupa de nylon coçando a bunda. E tudo bem. Mas quando o filme se faz de profundo, às vezes vem com um ponto de vista fascista, de extrema direita. Os mocinhos sempre estão certos e usam seus poderes para derrotar quem não fica do lado deles. Se eu fizesse um filme de super-herói, o herói morreria no final, só por ter tanta segurança de si sem que aprenda nada. A lição dele seria essa: morrer.

Alejandro González Iñarritu, não fazendo filmes de super-herói. Alguém já viu Birdman? Continuo bem entuasiasmado para assistir numa telona.

Tem uma página dupla que se passa no Instituto Pax, com ponto de vista fixo num ambiente fechado mas amplo, seccionado em um grid de 32 quadros do mesmo tamanho, e que inclui três narrativas que acontecem em três continuidades diferentes no mesmo espaço. O Grant veio no estúdio e a gente sentou pra conversar como ia fazer. Ele trouxe uma folha com desenhos e anotações, me explicou, mas eu achei muito complicado. Então peguei outra folha, coloquei do lado da dele e desenhei um grid de 32 quadros. Comecei pelo esquerdo superior: “então, que continuidade é essa, quem aparece nesse frame, e o que os personagens têm que fazer?” Aí ele me dizia, e cada vez que a gente chegava num ponto onde um falava “só um pouquinho, como ele chegou aqui?” ou “é mais provável que ela fosse por aqui”, fazíamos os devíamos ajustes. Acabou dando certo.

Não sei você, mas eu adoro essas espiadinhas no processo criativo de uma coisa brilhante como Pax Americana, outra colaboração indefectível Grant Morrison/Frank Quitely. Mais imagens, inclusive da página dupla em questão, no link.

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