Pessoas Que Disseram Coisas: Barry, Darrow, Kot, Gaiman, McCloud, Muñoz, Vaughan, Vivès
Tem gente que acha que quem vai escrever um conto tem que seguir estrutura de conto. É como achar que só temos dentes porque existe dentista.
Lynda Barry e suas aulas de criatividade.
Mas por que terminar Zero daquele jeito? A última edição foi um dos gibis mais bizarros e herméticos do mundo: tem fungo que conversa com gente, balas que saem de crânios e participação especial de William S. Burroughs.
Não achei nada mais apropriado. Não quero ficar interpretando porque não existe interpretação simples, que se encaixe perfeita, e é assim que eu vejo a vida: Sempre há alguma coisa que fica um pouco fora do nosso alcance, e somos nós que temos que decidir como vamos interagir com essa coisa. Nossa percepção envolve o não saber. Sabemos tão pouco! Conseguimos enxergar mal 3 porcento do espectro eletromagnético e só com isso já inventamos ciências e formas de pensar a vida. Fingimos que sabemos, mas nos falta clareza. Isso não quer dizer que temos que parar de ter esperança, de crer, mas ressalta uma coisa que é importante no meu cotidiano: aprender a ficar tranquilo com o não saber. Aceitar o mistério.
Ales Kot aceita o mistério. Quero ler Zero inteira, de novo.
Eu olho praquele Neil Gaiman e acho aquele cara um mistério. Não tipo um bom mistério, mas um cara misterioso. Eu lembro de umas histórias… tipo “Um Sonho de Mil Gatos”, que eu sei que escrevi num fim de semana, e não tenho ideia de como eu escrevia aquilo num fim de semana. Hoje eu não escreveria, não num fim de semana. Virei um escritor bem mais lento, mais ranzinza, mais nervoso com o que eu faço, mais nervoso em saber o que funciona e o que não funciona.
Dá para perceber um ritmo nas gerações. Sai Maus, aí Watchmen, aí Cavaleiro das Trevas. Leva um tempo para o pessoal aprender com essa época, o final dos anos 80, e começar o material dos anos 90. Leva um tempo para chegar em Jimmy Corrigan. Leva mais um tempo para quem leu Jimmy Corrigan sentar e fazer sua obra-prima. Mas a cada onda dessas obras de substância fica o potencial para uma geração nova aparecer com 10 toneladas mais de grandes obras. Só que leva um tempo. Existe um intervalo. E tenho muito esperança com o que está nas pranchetas de artistas de quem a gente ainda nem ouviu falar.
[Eu e Carlos Sampayo] estamos chegando aos 60. Estamos na última fase da vida. Não somos mais tão idealistas, não somos mais de experimentar, mas acho que ficamos mais profundos. O otimismo que tínhamos em relação à possibilidade de melhorar as condições de vida em nossa terra natal, assim como em todo o mundo, provavelmente se foi. Perdi a crença no socialismo como saída e virei um questionador. Acho que ficamos mais pessimistas, o que não quer dizer que desistimos. Apesar de todo o horror, a vida é uma aventura – viver é mágico. Talvez a vida seja como uma HQ. A história está em nossas mãos, e todos podemos buscar um roteiro melhor, uma história melhor.
Só vou dizer que filhos pequenos atrapalham bastante em termos de ter tempo pra escrever, e ajudam muito em relação a ter sobre o que escrever.
(…)
Trabalhar de pé é coisa de psicopata. Todo escritor é um ser lamentável, bizarro, feito para passar horas sem levantar, e se isso colabora para apressar a morte, o melhor pro mundo é isso.
Brian K. Vaughan não escreve de pé.
O mais magnânimo em fazer quadrinho é que eu posso criar histórias e personagens e as pessoas falam dessas coisas como se fossem vivas. Parece que eu sou um deus criador. Não tenho tanto interesse pelo mundo real. Os quadrinhos me devolvem a infância. Se eu tivesse que escolher entre os quadrinhos e tudo ao meu redor, eu ficaria com os quadrinhos.
Tá, mas por que 109 páginas só pra uma briga?
Eu sei lá. Eu queria ver. Acho que fica engraçado. Queria ver onde eu chegava antes de bater o tédio. Sei lá. Se eu tiver que explicar, aí acho que o propósito se perde.
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