O Fabuloso Quadrinho Brasileiro de 2016
Faz exatamente um ano e uns dias que a Narval Comix lançou O Fabuloso Quadrinho Brasileiro de 2015, uma coletânea de quadrinho brasileiro que tentou representar o que foi feito de melhor nessa área no período de um ano – exatamente de julho de 2014 a junho de 2015. Rafael Coutinho e Clarice Reichstul organizaram o projeto e me convidaram para ser editor. Eles fizeram um listão de tudo que saiu no período – com o apoio de uma chamada pública entre quadrinistas -, peneiraram a lista e deixaram que eu batesse o martelo quanto ao que entraria no livrão. É o modelo de organização/editor convidado do Best American Comics, nossa inspiração maior.
O livrão, no caso, tem 300 páginas, capa dura, sobrecapa e ficou meio caro (mas ainda se encontra por preço razoável). A seleção agradou muitos, desagradou alguns e gerou uma polêmica. É um dos trabalhos dos quais eu mais me orgulho, e ganhou o Troféu HQ Mix de Projeto Editorial em setembro.
Só que, pelo jeito, não vai ter continuidade. O ____ Quadrinho Brasileiro de 2016 teria novamente uma chamada pública da parte dos organizadores e a decisão final nas mãos de uma editora convidada, que escolheria um novo adjetivo no lugar de Fabuloso. E assim o projeto seguiria por 2017, 2018, 2079… Mas, aí, a Narval Comix acabou e esse processo nem teve início. Mesmo assim aconteceu uma movimentação para o projeto acontecer em outras editoras. Não estou por dentro de quanto isso andou, mas já estamos em novembro e não há notícias. Ponha na conta de motivos: Brasil.
O que não me impede de fantasiar como seria O ____ Quadrinho Brasileiro de 2016. Ou, já que me autocapacitei editor, O Fabuloso Quadrinho Brasileiro de 2016. E é o que eu fiz abaixo.
Ou seja: uma seleção de quadrinhos brasileiros, publicados por autores brasileiros em impresso no Brasil ou na web, no período de julho de 2015 a junho de 2016, que seriam representados por trechos num hipotético livro.
Além de ser hipotética, a seleção abaixo não se beneficiou de organizadores, nem de uma chamada para descobrir tudo que saiu de HQ neste período, não teve peneira prévia à minha seleção e, o mais relevante, ninguém me convidou para fazer. É tudo meu, feito de livre e espontânea vontade, conforme meu tempo e meu gosto.
Por quê? Porque chegou aqui em casa o Best American Comics 2016 e me deu vontade.
“Meu Aborto em Quadrinhos”
Cynthia B.
Uma história curta (5 páginas) publicada na piauí 99 (outubro/2015). Está na íntegra aqui.
All Hipster Marvel
Caio Oliveira
São HQs de uma página em torno do tema cômico do título. Não sei quando exatamente foram publicadas originalmente (na web), mas está no Social Comics e tem uma versão impressa em lojas de HQ.
Independente.
Apocalipse, Por Favor
Felipe Parucci
Uma das melhores HQs de estreia que eu já li, que consegue manter o ritmo por 250 páginas. Já escrevi sobre ela aqui.
Independente. Compre aqui.
Baixo Centro
Jão
Inspirada em Taiyo Matsumoto, uma corrida sem falas pelo centrão de Belo Horizonte.
Editora Miguilim. Tente pedir aqui.
Bulldogma
Wagner Willian
Figurinha fácil na lista de melhores do ano, da década, da história. E merecidamente. Escrevi resenha para a Folha de S. Paulo.
Editora Veneta. Compre aqui.
Dodô
Felipe Nunes
Nunes vai construindo a carreira com trabalho consistente e temas, pra mim, sempre inesperados. Já escrevi sobre Dodô aqui.
Independente. Compre aqui.
Estranhos
Fefê Torquato
Só a inspiração (suponho) Chris Ware-ica já me compra. O trabalho meticuloso no traço e para recortar os diálogos é de usar em aula.
Independente. Compre aqui.
Aventuras na Ilha do Tesouro
Pedro Cobiaco
Também figura fácil entre melhores do ano, dos anos, do universo, e até o momento a Grande Obra de Pedro Cobiaco. Já escrevi sobre ela aqui e nunca escondo a admiração que tenho pelas cores do sujeito.
Editora Mino. Compre aqui.
La Dansarina
Lillo Parra e Jefferson Costa
Vencedora dos HQ Mix de “Edição Especial Nacional” e “Roteirista Nacional”, já bastante comentada e arrasadora em roteiro e desenho. Também já escrevi sobre ela e está no Social Comics.
Editora Quadro a Quadro.
Mute
Marco Oliveira
Como o nome já diz, histórias mudas do Marco Oliveira, autor de Overdose Homeopática e co-autor de Aos Cuidados de Rafaela.
Editora Zarabatana. Compre aqui.
Pombos!
Márcio Moreira, Débora Santos e Brendda Costa Lima
Uma HQ pequena, rápida, de autores que eu não conhecia, que ganha muitos pontos pelos diálogos. Comentei aqui. Está disponível no Social Comics.
Independente.
“Amantes Invisíveis”
Daniel Bretas
Faz parte de uma coletânea pequena chamada Shut Up and Listen. Bretas é um monstro do desenho. Comentei aqui e também está no Social Comics.
Independente.
Incidente em Tunguska
Pedro Franz
Tenho uma relação mais próxima com esta HQ porque a li como tradutor (para a versão em inglês). Mesmo que não tivesse, seria incontestável que entra nas melhores do ano.
Ela está disponível online na íntegra.
Independente.
Queixumes
André Valente
Valente vai e volta dos quadrinhos com uma (in)constância (im)previsível, mas deu conta de uma longa série autobiográfica no Tumblr, entre ano passado e este. Sempre quero ver mais HQ deste monsieur.
//naofuieuhq.tumblr.com/
Coleções importantes
Por não haver uma convocatória e também por questões de tempo, não vasculhei os webcomics brasileiros para saber o que foi publicado entre julho/2015-junho/2016. Mas há pelo menos três coleções importantes lançadas neste período, de material que saiu originalmente na web e que recomendo com toda força.
Quadrinhos dos Anos 10
André Dahmer
Talvez o melhor do que o Dahmer já fez nas tiras, em evolução constante.
Quadrinhos na Companhia. Compre aqui.
Robô Esmaga
Alexandre S. Lourenço
Algumas HQs da coleção já entraram no Fabuloso 2015, mas tem material inédito – e, independente disto, excelente de ver impresso.
(Talvez perguntem por que Você é um Babaca, Bernardo, última e grandiosa obra do Alexandre, não está na lista. É porque saiu no segundo semestre de 2016. Ou seja, vai pra seleção Fabuloso 2017.)
Editora JBC. Compre aqui.
Quadradinhas
Lucas Gehre
Lançada via Catarse este ano, a coletânea mostrou a evolução da ideia do Gehre de se ater ao grid e quase chegar no quadrinho abstrato. Tem experimentos brilhantes.
LTG Press. Compre aqui.
* * *
Vale reforçar, se ainda não ficou claro, que esta é uma seleção apenas minha e que não segue a democracia de um Troféu HQ Mix ou de um Prêmio Grampo. Nem é um livro, não tem a chancela de uma editora, nem precisa passa por aprovação dos autores selecionados. Mas, fazendo isso, espero chamar atenção a algumas HQs que talvez ainda não tenham tido a divulgação que mereciam. E também estimular mais gente a fazer suas listas do que acha bom. Como seria o seu Melhor/Fabuloso/Best of/Fodástico Quadrinho Brasileiro de 2016?
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