COMPRANDO

Lambiek por acaso

Acordei e o avião estava girando. Pela janela, tinha um mar de nuvens. No centro do mar de nuvens, tinha um caldeirão com mais nuvens de forro. Havia aviões circundando o circuito do caldeirão. Às vezes um, às vezes três, e uma hora vi quatro bem longe, bem pequenos, mas identificáveis em asa, cauda, corpo. Quantos quilômetros de diâmetro tinha esse caldeirão pra ver mega-jumbo-jatos pequeninhos de tão longe? Queria ser mais inteligente pra calcular.

O caldeirão ficava em cima de Amsterdam, tapada por um nevoeiro. Meu avião deveria sair de Helsinki às 7h, com conexão em Amsterdam para São Paulo. Não saiu, pois o aeroporto de Amsterdam – o Schiphol – estava fechado. Decolamos com 55 minutos de atraso e, chegando no Schiphol, o comandante avisou que a situação havia piorado. Ficamos no circuito do caldeirão uma hora, uma hora e meia. Um aeromoço veio avisar o casal de meninas do meu lado que elas haviam perdido a conexão pra Edinburgh. Pra São Paulo, até aquele momento, tudo bem.

Só que não. Cheguei, o voo estava atrasado, ia sair em dez minutos, a moça da companhia disse que eu não ia chegar a tempo, tentei assim mesmo (terminal B a fim do terminal E: 1,5 km, pode ser?), cheguei, não deixaram eu entrar, duas horas esperando no balcão de transferências, voo foi remarcado pra manhã seguinte. Por isso, aqui estou em Amsterdam.

Haarlem, na verdade. Um hotelzão de beira de estrada, em frente a um cassino. Tem ônibus pro aeroporto, e do aeroporto pra Amsterdam Centraal. Foi um acaso, mas eu tinha que aproveitar o acaso pra ir na Lambiek.

Por conta de um nevoeiro a gente se reencontrou.

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A Lambiek foi a primeira comics shop da Europa – faz 50 anos em 2018. Não é a típica comics shop com pôsters, bonequinhos e traquitranas. Tem pôsters e bonequinhos, mas os pôsters e bonequinhos estão velhos e empoeirados. A aparência é de sebo. O que tem mesmo é gibi: novidades bem recentes das editoras pequenas dos EUA e da França, e (óbvio) tudo da Holanda. Tem umas raridades também.

Mas o legal é falar pro Klaas: “Tô procurando um troço complicado: Brought to Light, do Alan Moore.” E aí ele faz: “Mmmmm. Brought to Light? Do we have those, ______ (nome do moleque que também trabalha lá)? Alan Moore and Bill Sienkiewicz’ Brought to Light, late eighties… Mmm…. Guess I saw one these days.” Ele acabou não achando nem no computador nem onde ele achou que tinha visto (e ia custar 30 euros, que não cogitei converter). Mas, pô, em que outro lugar do mundo o cara sabe o que é Brought to Light E pronunciar Sienkiewicz?

Depois perguntei para o Klaas se ele era o sr. Lambiek. Ele deu uma boa risada de 27 dentes. Disse que não é o dono da loja, mas que trabalha ali  há 35 anos. O Klaas é assim, um Fabiano Denardin de olhos azuis e trinta anos a mais. Eu devia ter tirado fotos. O Ramon Vitral foi lá e tirou fotos.

Saí da Lambiek só com uma edição da RAW (da segunda fase, formato livro) e um gibizinho holandês pra dar de presente. O negócio não é ir lá pra comprar. É pela beleza de ir na Lambiek. E, se amanhã não tiver outro nevoeiro, foi um jeito inesperado de fechar minha tour europeia de sete dias que viraram oito. Se não tiver outro nevoeiro.

Aí quando eu saí tava assim. (Compras: RAW #2.1, só. Muita indecisão.)

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