LENDO

A Canção de Roland

(Estou recuperando textos que publiquei fora daqui. Este eu soltei no Facebook em 5/9/2019.)

Comprei The Song of Roland, do Michel Rabagliati, há uns bons anos, quando o álbum ganhou um prêmio importante e o dólar deixava a gente prestar atenção em qualquer quadrinho com o prêmio que fosse. Segundo a notinha fiscal da Amazon, ele veio junto com Building Stories.

Tenho mais quatro livrinhos do Rabagliati por aqui, mas sinceramente não lembro quais já li. Rabagliati faz quadrinhos autobiográficos, como muitos, mas, como alguns poucos (Eddie Campbell/Alec… quem mais?), chama seu eu-do-gibi por outro nome: Paul. Acho que li Paul Has a Summer JobPaul Moves Out, sobre a adolescência e o início da vida adulta. E li Roland, o que não tem Paul no título. (Na verdade, é Paul À Québec no original francês.)

Rabagliati tem o traço – ou tenta remeter à memória idealizada do traço – dos gibis infantis dos anos 1950 ou 1960. Tipo Luluzinha, ou a memória que se tem da Luluzinha do John Stanley. Se você for comparar, Rabagliati é bem mais apurado e segue a linha do conterrâneo Seth. Cria nostalgia de coisas que eu não li.

Não é só o traço, mas o jeito de contar a história. Simples, direto, despojado, sem firulas. Fomos passar um feriado na casa dos sogros, a família dormiu amontoada pela casa, teve diversão, teve reclamação, e aí fomos embora. Na seleção dos momentos dessa banalidade, Rabagliati caracteriza com poucas falas e trejeitos cada um dos, sei lá, 47 personagens. Dá saudade de todos os problemas nos encontros de família. Não tem pausa tipo videogame para fazer fichinha de cada tio e irmã nem diagramas do Chris Ware. É simples, direto, despojado, sem firulas. Tipo Luluzinha.

Li de novo, agora na versão A Canção de Roland, editado pela Comix Zone (tradução do Thiago Ferreira), em duas noites. Ativou tudo que eu tinha esquecido daquela primeira leitura, há sei lá quantos anos. E também criou novas memórias. Sei que li a primeira vez antes de eu perder minha mãe e meu pai. Aquela cena onde se ensina a trocar os lençóis da cama de um convalescente provavelmente não me dizia nada; hoje, ela se liga com o que eu tive que fazer na vida real. Não vai sair da minha cabeça.

Luluzinha, até onde sei, nunca perdeu parente por conta de câncer. Luluzinha não passou dois quadros em silêncio, caminhando e olhando para baixo, até sentar num banco e olhar as estrelas. Luluzinha não tirou uns minutos de vigília do hospital pra fumar maconha com os irmãos.

Mas aí vem o Michel Rabagliati e coloca na nossa cabeça, nesse traço luluzinhesco e nostálgico-do-que-eu-não-li, umas boas memórias sobre o que é família, doença, morte e, no meio do combo família/doença/morte, parar pra respirar.

Simples. Direto. Despojado. Sem firulas. Que baita gibi.

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